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HISTÓRIAS DE TERROR: A Casa


A Casa 

Por: Gabriela Martins
 

Eu mudara para ali havia alguns dias. Meu pai, minha mãe, meu irmão e eu. Era uma rua escura, quase abandonada. Enorme. Tínhamos dois ou três vizinhos, que cuidavam dela. A mesma não era asfaltada, e não havia comércio num raio de cinco quilômetros. Era tudo muito pequeno, muito estreito. 
Mas tinha aquela casa. Um dia, talvez, a mais bonita da região. Bem antiga, suas paredes de madeira eram cobertas por trepadeiras. Ocupando toda a parede do primeiro andar, estavam duas enormes janelas rodeadas de mármore, imundas pelo tempo. O batente da porta de madeira também era de mármore.
No segundo andar, havia duas varandas com sacadas de uma pedra que mais parecia granito. Do meu quarto, dava para ver uma piscina vazia e coberta de lodo. Era definitivamente uma casa abandonada. 
Sinceramente, nunca soube o porquê de meus pais terem se mudado para aquele lugar. Só de olhar dava arrepios. Bem, o importante é que minhas aulas começariam em agosto, e estávamos no fim de julho. Estava cansada daquele lugar, queria ver pessoas. Aquela rua era vazia demais, o que causava a sensação de ser assombrada. 
Inicio das aulas. No segundo dia de aula, descobri que três amigos moravam perto de mim. Eles me chamaram para invadir a casa. Mesmo tendo quinze anos, estava morrendo de medo. E, aliás, pra que queriam invadi-la? Era apenas uma casa comum! Pra não passar por medrosa logo no segundo dia, aceitei o desafio. 
Combinamos de nos encontrar às nove e meia, no parquinho que ficava perto do lugar que íamos invadir. Já eram nove horas, então dei uma passada em casa apenas para pegar uma lanterna velha de meu pai e um casaco. Após isso, rumei para o parquinho e me sentei no balanço, esperando os outros. Já eram cerca de dez horas quando conseguimos nos reunir. 
Adentramos a casa. Um corredor imenso se estendia por mais de dez metros. Ao longo do caminho era possível ver gigantescos quartos e uma cozinha colossal. Todos imundos, logicamente. De fora, parecia impossível que a casa fosse tão grande. Ao chegar ao final do corredor, havia uma sala que parecia ser maior do que a minha casa inteira.
Apontei a lanterna para o teto. Dava pra ver um candelabro apagado e, ao lado, uma portinha com alça. Olhei para os meus amigos. Afirmando com a cabeça e sem falar muito, decidimos abrir. Subitamente uma escada se desdobrou na nossa frente, e nós todos subimos por ela, indo parar num lugar que parecia uma espécie de sótão. 
Parecia ser o único lugar limpo daquela mansão inteira. O chão era de madeira e estava incrivelmente lustrado. Por uma pequenina fresta, adentrava a luz do Sol. Assustei-me. Não fizera nem uma hora desde que havíamos entrado! Olhei para o chão. Dois corpos, que não estavam ali antes, se encontravam em estado de decomposição. Ao olhar direito para seus rostos enegrecidos, percebi que eram André e Ísis. 
- Como...? Eles estavam ao meu lado agora mesmo... - Era impossível! Os corpos estavam num estado que dava a crer que já pereciam ali há muitos anos. Caí de joelhos. Lágrimas umedeciam meus olhos e escorriam pela minha face. Não sabia se eu chorava de medo, tristeza, susto ou tudo junto. 
Fui tocada no ombro por unhas finas cor escarlate. Era Laís.
- Clara! Precisamos sair daqui! - Nunca entendi como, mas ela simplesmente envelhecia rapidamente. Seus cabelos, antes ruivos, agora estavam grisalhos e brancos e suas mãos, enrugadas. Ela parecia mais assustada que eu.
Puxou-me pelo braço, mesmo eu querendo a todo custo levar os corpos comigo. Quando voltei a mim, comecei a correr como se não houvesse amanhã, rumo à entrada. 
Quando finalmente chegamos ao corredor, a mão de Laís me soltou. Olhei para trás e seu corpo apodrecido, envergado, coberto de vermes, estava jogado no meio do chão. Eu já sabia que não adiantaria chorar, eu precisava apenas fugir. Trespassei a porta, e tudo implodiu na minha frente. Eu apenas caminhei rumo à minha casa. 
Abri a porta. Os corpos putrefatos de minha família se encontravam em suas posições habituais. Meu pai e minha mãe no sofá e meu irmão lendo uma revista rasgada. Parecia que todos haviam morrido de velhice e voltado à vida rotineira. Minha tristeza apenas se acumulou. Eu já não conseguia mais deitar lágrimas, porque estava assustada e amedrontada, mas comecei a soluçar. 
Eu segurava a mão podre de minha mãe.
Comecei a pensar. Aquela casa fazia o tempo passar mais rapidamente, só podia pensar isso. Mas... Então, se isso realmente acontecia, eu não devia realmente estar viva. E foi isso que aconteceu. Olhei para minhas mãos, que estavam se enrugando. Meus cabelos clarearam até ficarem brancos. Minha alma está presa na mansão até hoje.
Ela foi reconstituída para uma família de grandes posses que queria uma boa moradia. Mas meu corpo continua aqui. E você? Não quer me libertar? Como recompensa, serei bem gentil em sua morte...

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Autor Patrick Neves

O tipo bom de má companhia...

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