.

Contos de Terror #35 : Neve Sangrenta


Bem, e na medida do possível, prometo postar todos os contos enviados. Claro, sei que não será fácil, mas enfim, não custar tentar, não é mesmo? Uma boa leitura!

Neve Sangrenta

Por: Wagner Cezário
 neve sangrenta

Por que diabos eu recebi uma carta do meu avô que não falava comigo a mais de oito anos, desde que minha mãe morreu? Tá certo de que ele sente-se culpado pelo ocorrido, mas só agora resolveu falar? Tive que vim, parecia ser importante. Mas no momento me arrependo de ter tomado tal decisão.
Olhei pela janela e vi que está nevando… Novamente. Estava dentro dessa casa a três dias, sem poder sair e me comunicar com alguém. Mesmo com energia, os telefones daqui eram somente para enfeite, pois é o que parece já que nenhum funcionava.
Nos dois primeiros dias, após a minha chegada, fui a sua procura. A procura de Robert Walker, meu avô. Tinha que ir a um vilarejo localizado uns 10 km depois de onde estava. Era longe, porém o pai de minha mãe havia morado ali. Com a carta, tinha também me enviado a chave da residência.
Chamava um táxi pelo celular ou pegava carona com alguém. Quando cheguei, a quantidade de neve era tolerável. Com uma foto meio antiga, perguntei para as pessoas se conheciam aquele velho. Algumas disseram nunca terem visto tal homem, enquanto outras se lembravam vagamente dele. Mas um cara me chamou bastante atenção.
Quando o questionei e mostrei-lhe a foto, assim como fiz com os outros habitantes, começou a gritar e correr para longe de mim. “A neve de sangue está chegando! A neve vermelha aparecerá novamente! A neve de sangue está chegando…”. E foi embora. Fiquei sabendo por outros moradores que o aquele homem havia presenciado um tipo de ritual, que segundo o “louco”, uma mulher foi levada pelas sombras assim que a neve tinha ficado vermelha… Para mim, isso era "história pra boi dormir”.
Não sei o que significava essa neve sangrenta, mas se isso estava relacionado à tempestade que veio no dia seguinte, com certeza ele estava certo. Muita, mas muita neve mesmo! Era impossível um carro passar por ali. Poderia me arriscar e ir até o vilarejo andando, mas tenho amor a minha vida e à minha esposa, a qual está em casa, grávida, a milhares de quilômetros longe de mim.
Restou-me apenas olhar na própria casa, buscando coisas do meu avô. Três dias de procura e nada. Até que resolvi dar uma de detetive e analisar todos os detalhes. Descobri dois esconderijos no piso, encontrando um baú em cada.
O primeiro baú tinha um fundo falso, que estava desprendido. Por baixo dele achei um caderno com apenas uma folha. No cabeçalho, estava escrito “Passe-a por cima desta folha”… O que isso queria dizer? Coloquei-a no bolso da minha calça para averiguar mais tarde sobre ela. Talvez no segundo baú houvesse “a coisa” que seria usada na folha…
Abrindo-o, senti um cheiro horrível vindo dele que até meus olhos arderam. Quando parei de lacrimejar, vi um pequeno corpo em composição. Que nojo! Eu diria que era um corpo de uma criança de uns quatro anos, se ao menos aquilo fosse uma criança... Se ao menos aquilo fosse um humano!
Tinha chifres, era bem barrigudo e os caninos bem afiados. Possuía uma expressão demoníaca, olhando fixamente para mim com as suas órbitas vazias. Ele tinha em sua "mão", o pedaço de uma camisa. Estava tão enojado e com tanto medo da situação que simplesmente fechei o baú, andei um pouco para fora de casa e o enterrei por lá mesmo. Não queria mais olhar para aquela cara horrenda.
E… Nossa! Anoiteceu bem rápido dessa vez. Tinha ficado tanto tempo olhando aquele “bicho”? Só me restou ir dormir.
Mal peguei no sono e escutei um barulho dentro de casa e, como minha curiosidade sempre foi maior que o meu medo, resolvi olhar o que estava acontecendo. Estranhamente, as luzes não acendiam mais, então iluminei o caminho com meu celular. De repente, me deparo com um homem e caio sentado no chão. Era meu avô! Fiquei feliz, com raiva e surpreso ao mesmo tempo… Não parecia ter envelhecido nada. Como aquele velho teria entrado ali com toda aquela tempestade do lado de fora?
Falando nela, a tempestade fez com que a energia ficasse desativada por um tempo. Assim que voltou ao normal, pedi explicações. Por mais longa que fosse a história, queria escutá-la. Primeiro perguntei sobre a morte da minha mãe, sua filha. Disse-me que ela passou um tempo em sua casa, nessa mesma cabana isolada do vilarejo. Ele dirigia o carro, estando alcoolizado, e entrou com tudo pela garagem, o lugar onde minha mãe infelizmente encontrava-se.
Como eu ainda estava abalado pela morte do meu pai, o velho não conseguiu criar coragem para me contar outra notícia devastadora. Nessa época, eu estava na casa de um colega, quando três dias após a tragédia, a mãe dele recebeu o telefonema de meu avô contando o relato.
Só não lhe dei um soco por respeito aos seus cabelos brancos. Queria saber também o que estava acontecendo para ele ter me chamado. Ele era rico, o mais correto seria ter ido me visitar, e não ao contrário. Respondeu-me que sofria de uma doença e que possuía poucos meses de vida. Queria colocar-me em seu testamento. Necessitaria também da minha ajuda para se livrar de algumas coisas que se encontravam em um galpão a uns 2 km dos fundos da casa.
Como ele não queria perder tempo, fomos na tempestade mesmo. Ela estava mais tranquila do que hoje de manhã. Estranho…
No caminho, percebi que ele estava com a camisa rasgada. Faltava um pedaço do mesmo tecido que estava na mão daquela criatura. Quando decidi virar para trás, sinto uma forte pancada em minha cabeça. Quando acordei, estava sujo de sangue e atado a uma árvore.
O que seria tudo isso? O velho estava na minha frente, com um copo de sangue na mão. O meu sangue!!! Queria saber o que era aquilo, e exigi mais uma resposta.
Meu avô me contou que anos atrás fez um pacto para trabalhar no exterior e poder ganhar muito. Fez um pacto por ganância, um mal de todos os humanos… Ele precisava de sangue da família para continuar o ritual. Derramou meu sangue na neve que, de repente, ficou vermelha. “A neve de sangue está chegando! A neve vermelha aparecerá novamente!”.
As palavras do louco apareceram na minha mente. Aquilo não era uma lenda local, era realidade. A mulher que havia visto sendo engolida pelas sombras anos atrás era a minha mãe!!!
Várias criaturas surgiram da neve. Aquelas "crianças". Elas estavam atrás do velho, mas ele havia prometido o sangue de seu sangue como forma de pagamento. Primeiro minha mãe, agora eu e depois o meu filho… Desgraçado!! Estava me monitorando todo esse tempo, por isso a carta repentina. Ele sabia exatamente o que eu estava fazendo!
No centro da região apareceu uma enorme sombra… A Sombra. Desesperado, consegui me soltar das cordas e comecei a correr. Porém a criatura gigante me segurou pelos pés, fazendo com que a folha caísse do meu bolso… Percebi que uma palavra surgiu na região onde a folha foi tocada. Enxerguei a palavra “liberdade”. Seria a minha “liberdade”?
“Passe-a por cima desta folha”. Agora isso fazia sentido. Esfreguei-a contra a neve e um texto apareceu. Seria um “contra-ritual”?… Quem sabe… Só saberia assim que lesse aquilo. Pior do que A Sombra não poderia ser. Ou poderia? Queria sair da neve e nunca mais voltar a ver alguma na minha vida. Comecei a leitura.
“Nas tempestades mais brancas…”
As criaturas me soltaram e pareciam que estavam prestando atenção. Era minha chance. Continuei:
“Nas tempestades mais brancas,
Prometo lhe invocar,
Nas tempestades mais escuras,
Prometo lhe alimentar.
Faço-lhe um pedido
Peço-lhe com toda a verdade
Custará o sangue do meu sangue,
Custará a minha liberdade!”
Mas… Que merda tinha acabado de fazer?!?  A Sombra “entrou” no corpo do velhote, que por sua vez caiu na neve que agora estava branca. Logo em seguida, desmaiei.
Quando acordei, minha cabeça estava enfaixada e tinha levado vários pontos. Uma enfermeira disse que me encontraram em estado de hipotermia e que foi sorte ter sobrevivido. Ao contrário do “senhor” que estava comigo. Dias se passaram e fui levado para casa. Enfim, estou com a minha família, poderei esquecer tudo o que aconteceu.
Mas, espera… Isso não está certo. O corpo do velho desapareceu do necrotério. Sei que ele está a minha procura. De noite, em meus sonhos, sempre vejo “A Sombra” e a escuto chamar meu nome. “Freeed, Freeeeeed… Já cumpri a minha promessa.
Já te tirei da neve e para a neve nunca voltará. Você tem uma dívida comigo, lembra-se? Não se esqueça: necessito do sangue de seu sangue. Algum dia nos encontraremos novamente. Todas as noites, as mesmas palavras. Não estou preparado para o nosso reencontro. Mas… Quando seria esse reencontro?
POR ENQUANTO… FIM.
E a história prossegue…
A felicidade dura 09 anos.
 "Uau, que belo dia está hoje. Bastante ensolarado. Preciso chamar minha mulher e meu filho agora. Vamos para a praia!!!”
Surpresas e más lembranças.
"Inacreditável! O céu ficou nublado de um minuto para outro. E cadê o pessoal dessa praia?”
Esperança e desespero.
“Finalmente uma alma viva por aqui. Talvez possa ajudar-me a encontrar minha esposa.”
Sacrifício.
“Simone? Simone! Mas o que fizeram com você?!?"
Novo pacto, medidas extremas.
“Sombras, demônios, almas… Diferentes seres para diferentes propostas.”
Compartilhar Google Plus

Autor Patrick Neves

O tipo bom de má companhia...

Postagens Relacionadas

0 comentários :

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

DÁ UM LIKE AE!

.

.