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Contos De Terror #36: O canário cantor


Bom, e para participar, você já sabe: envie o seu conto para: PATRICK_MENORR@HOTMAIL.COM! A todos, é claro, uma ótima leitura!
O canário cantor
Por: Juliana Lopes
 canário

Certa vez havia um canário que vivia numa bela gaiola. Tinha de tudo, estava sempre num lugar de destaque da casa. Só era preciso cantar e logo apareciam pessoas tecendo diversos elogios e prontas para lhe atender qualquer desejo.
“Que ave linda! De certo que a mais linda de todas!” “Que canto lindo. Não há dúvidas de que é o canto mais bonito de todos.” O ego do pequeno canário ia às alturas, e ele continuava se exibindo para todos.
Um dia, colocaram sua gaiolinha, próximo a janela, e o gato que não aguentava mais ouvir o canto do canário, empurrou à gaiola, fazendo com que seu pequeno palácio despencasse. Com a queda, a portinha se abriu e o canário saiu de seu conforto para conhecer o mundo.
No início ficou preocupado, mas se todos falavam tão bem de sua pessoa, se ele foi capaz de ganhar um pequeno palácio, o que ele seria capaz de ganhar fazendo sucesso pelo mundo?
Começou a caminhar, admirando a natureza, e logo foi parar dentro da floresta. Andou um pouco mais e avistou um esquilo. Resolveu então começar a cantar, estufando o peito, e gesticulando com as asas, de forma suave e bela. O esquilo, porém, nem se importou com o show e continuou seu caminho apressado. Mais a frente, o pequeno cantor encontrou uma tartaruga que andava lentamente. O canário cantou novamente, desta vez, alguma sinfonia de algum artista que ouvira diversas vezes no piano. A tartaruga parou e ficou admirando, porém, adormeceu naquele mesmo lugar.
O canário ia ficando cada vez mais triste… Será que ninguém ali sabia apreciar uma bela música? Continuou seu caminho, até que ouviu um barulho. Ao olhar para cima, viu um macaco descendo da árvore. O canarinho deu um pulo para ficar mais alto e cantou uma canção animada, um verdadeiro convite para uma boa dança.
O macaquinho parou e ficou observando o show, quando o canário fez uma pequena pausa para respirar o macaco interrompeu dizendo: “Poderia cantar em outro lugar? Você está em cima da minha banana e eu estou com fome.” O canário envergonhado, desceu de seu “palco” e caminhou um pouco mais para dentro da floresta, até que parou próximo a uma árvore para descansar.
O canário estava quase adormecendo, quando ouviu um ruído e percebeu que havia uma cobra do seu lado. "Olá canarinho…” disse a cobra num tom de voz amistoso. “Vi você cantando pela floresta… Poderia cantar um pouco para mim?”
O canário mal podia conter sua alegria e começou a cantar várias canções, fazendo um verdadeiro mix eletrônico. A cobra observava e se movimentava conforme a música. Quando o canário terminou, a cobra lhe perguntou: “Qual o seu nome canarinho?” “Bem… chamavam-me de o Canário Cantor…” “Muito bem, Canário Cantor, posso te fazer uma pergunta?
“Claro, até duas!” “Por que você fez todo este percurso pela floresta a pé e não voando?” “Voar? Isto é possível para mim? Acha que só os atores da televisão podiam voar…” “Quer dizer que você sempre se dedicou a música e nunca as coisas naturais da vida?” “Pra mim, o natural sempre foi cantar…” “Sobre sua música... Eu achei o máximo. Esses bichos da floresta são uns tolos. Não sabem apreciar e nem reconhecer um artista de verdade quando veem um.” “Nossa, você acha mesmo?”
"Não. Estava só brincando com você. Seu canto é tão comum quanto o caminhar das raposas. Sua inutilidade é ainda maior pelo fato de você não saber voar. Olhe para cima. Observe como TODAS as aves voam alegremente a luz do sol. Observe e ouça como o canto delas é mil vezes mais alegre que o seu. Sabe por quê? Porque elas são livres! Não necessitam da fama, apenas voar, achar uma namorada, casar, ter filhos, ensiná-los a voar… Isto é o natural.
Você. Uma palavra que te define é... vejamos… Aberração. Defeito. Isto mesmo, um defeito que a natureza escondeu até hoje. Ora veja um pássaro que não sabe voar. Um pássaro que acha que pode viver apenas de seu canto… Só se for trancado numa gaiola mesmo. Mas como sua gaiola está longe, eu faço questão de concertar este defeito…” O canário mal cabia em lágrimas, chorava feito uma criança, e em meio às lágrimas perguntava por que a cobra foi tão cruel. “Querido canário. Apenas abri seus olhos para o mundo…
Mas não se preocupe meu bem, todo esse sofrimento vai acabar… De certo que você não aguentaria viver nem mais um segundo, vendo as coisas como elas realmente são. Então, vou dar um jeito nisso.” Dizendo essas palavras, a cobra abocanhou o canarinho, com lágrimas e tudo uma bocada só. Voltou para sua casa satisfeita, e bem servida.
Na antiga casa do canarinho, seus donos viram a gaiola no chão aberta, e viram que o canário não estava lá. “Deve ter voado” pensaram. Dias depois, havia outra gaiola. Outro canário. E assim, o ciclo recomeça. 
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Autor Patrick Neves

O tipo bom de má companhia...

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