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O Pitbull Empalhado


Julian era um jovem técnico em Informática, fazia pouco tempo que estava formado, mas por suacompetência já tinha uma ótima clientela, a tal ponto de já ter dado entrada em seu próprio apartamento, simples na verdade, mas seu. Tinha sua própria oficina e trabalhava muito, para ele não havia domingo nem feriado, como não tinha pais vivos e era solteiro, dedicava-se totalmente a sua profissão.

Certa tarde, já depois das quatro horas de uma tarde nublada e sombria ameaçando chuva, Julian recebeu o telefonema de um novo cliente. Parecia ser um senhor de idade, chamado Armando, que explicou que seu neto estava para chegar dos Estados Unidos, e ele precisava urgentemente instalar um computador em sua casa. Que já comprara todos os equipamentos, mas o neto ligara naquela tarde, dizendo que chegaria no dia seguinte. Assim, ele precisava de uma instalação com urgência.
Julian não teve dúvidas, anotou logo o endereço, era num recanto um pouco retirado da cidade, mas o velho estava disposto a lhe pagar o dobro pelo serviço se fosse necessário, ele então pegou seu velho Fiat Uno 1992, que para ele era uma espécie de talismã, o primeiro caro que pudera comprar, e pegou a estrada. Ameaçava mesmo chuva e ia escurecendo rapidamente, mas Julian nem ligava para isso, era uma pessoa inteiramente voltada ao trabalho, então saiu da estrada principal e tomou o atalho de uma estradinha de terra, que ia desembocar diretamente na propriedade do sr. Armando.
O rapaz desceu do caro e fez soar a campainha do portão de ferro. Era uma casa antiga e sombria, e o céu cor de chumbo, ao fundo, dava um ar ainda mais misterioso ao local. Logo uma senhora de meia idade atendeu, disse que era a governanta e pediu que Julian a seguisse, pois o sr. Armando estava a sua espera.
Julian seguiu a mulher um tanto assombrado, mas não era muito de se deixar impressionar por essas coisas. Subiram alguns degraus, atravessaram um coredor escuro e cheio de quadros , que ia dar numa sala muito grande e bem iluminada, com rica decoração. Lá estava o dono da casa, que o chamara, era um senhor de cerca de setenta anos, mas bem forte e conservado, cabelos grisalhos, vestido de cinzento, que o recebeu afavelmente e agradeceu muito a Julian por ter vindo com tanta presteza.
Foi então que Julian tomou um grande susto, pois em cima do piano estava nada mais nada menos que um enorme cão da raça Pitbull, um legítimo red nose, cor de caramelo com peito branco, e seus olhos verdes pareciam fitar friamente o rapaz! O sr. Armando riu e o tranquilizou, disse que era um cão empalhado. Julian, aliviado, mas ainda suando frio, riu também do seu engano e do seu susto, mas o fato era que o cachoro parecia incrivelmente vivo e pronto a saltar sobre ele a qualquer momento.
O dono da casa convidou-o então a sentar-se, mandou vir sanduíches e suco e começou a contar que aquele fora seu cão de estimação, quase como um filho, e que seu nome era Vlad. Quando morrera, cinco anos antes, ele não quisera se privar totalmente da presença de seu fiel amigo, já que era viúvo, perdera num desastre o filho e a nora, e o neto que estudava no exterior e agora ia chegar, era o único parente que lhe restava. Conseguiu então o endereço de um famoso taxidermista, um empalhador de animais, que lhe cobrara uma pequena fortuna mas fizera uym trabalho perfeito, a tal ponto que Julian tomara um grande susto, tomando-o por um cachoro vivo.
Julian, depois de lanchar quis começar logo seu trabalho, o velho subiu com ele as escadas e abriu a porta de um quarto, que seu neto deveria ocupar assim que chegasse. Disse a Julian que ficasse a vontade e que, como decerto iria terminar tarde e começara a chover, seria um prazer hospedá-lo aquela noite, pois existiam numerosos quartos de hóspedes. Que estaria em seu quarto, caso precisasse de alguma coisa.
Julian agradeceu, abriu sua maleta e iniciou logo a instalar o computador de última geração. Começara a chover forte e relâmpagos e trovões se sucediam, um atrás do outro. Então de repente a luz se aspagou.
Mas que merda, pensou Julian irritado, desse jeito não vou conseguir terminar. E saiu pelo corredor a procurar o dono da casa, ou a governanta, mas não encontrou ninguém, como se houvessem evaporado.
O que o velho não contara era a parte mais macabra da história, ou seja, que Vlad, o pitbull, ao morrer fora empalhado, mas por um sacerdote negro do vodu, o qual fizera um feitiço muito forte, para que o cão retornasse a vida em noites de tempestade como aquela, mas para que o encanto se conservasse, ele precisava ser alimentado com carne humana uma vez por ano, e que não existia neto algum, pois todos da família do sr. Armando, a esposa, o filho, a nora, e também o neto um ano antes, haviam sido sacrificados para que ele tivesse seu cão de volta por algumas horas.
Julian desceu as escadas aos tropeções, à luz dos relâmpagos que clareavam tudo com sua luz expectral. Foi então que, chegando na sala, ouviu o rosnar de um cão.
Incrédulo de pavor, viu o pitbull mover-se, com os dentes areganhados, os olhos cheios de uma luz diabólica, pular de  cima do piano e aremeter contra ele, sedento de sangue! O resto foram somente trevas eternas. Então o sr. Armando surgiu, enquanto Vlad devorava vorazmente a carne de Julian, formando uma grande poça de sangue no tapete. No dia seguinte ele jogaria os restos mortais no poço nos fundos da casa. Depois de satisfeito, Vlad, com o focinho manchado de sangue fresco, correu para o colo de seu dono, que o acariciou ternamente, enquanto olhava para o que restava do corpo de Julian com uma certa pena.
- Desculpe, rapaz, não é nada pessoal, mas. amo meu cachoro acima de tudo!
FIM
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Autor Patrick Neves

O tipo bom de má companhia...

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