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Contos de terror: O acampamento

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O Acampamento

Por: Bruno Barros
 

Eu sempre fui uma garota racional, sabe? Aquele tipo "só acredito vendo”. Acho que por isso descidi ser física, para provar coisas que são impossíveis de existir para as pessoas, como um buraco de minhoca. Me chamo Sofia Andziewicz, tenho 22 anos, de origem alemã, filha adotiva de um casal que não pode ter filhos. Tenho, ou tive, uma vida normal, estudo em uma das faculdades mais aclamadas do país e faço pesquisas para a NASA sobre a teoria do tempo.
Geralmente as pessoas ficam traumatizadas com coisas assustadoras e sobrenaturais. Já eu, com o que não faz sentido. A loucura se esconde atrás de nossos grandes medos, medos estes, que ainda perturbam a minha mente, que me fizeram ficar muda, o que eu vi hoje, foi o tipo de coisa que nos faz questionar nossa própria existência.
- Sofia! Eu estou perdendo a paciência, achamos cadáveres totalmente carbonizados e sem olhos naquele acampamento e você não quer me dizer o que houve. – Falou o típico tipo de policial, gordo e arrogante. Mas eu não conseguia falar, ainda estava tentando acreditar naquilo.
– Escuta aqui, se você não disser alguma coisa agora, vou ter que prender você por suspeita de assassinato. – Continuou.
Não sei por que vim procurar uma delegacia. Eles não vão acreditar em mim mesmo. Eu poderia me livrar desta situação ilesa, só tem este policial presente, ele não consegue disfaçar seus olhares à uma bela jovem com um cabelo de fogo que descia em cascata até seus seios iluminando seu rosto, belos olhos verdes, seios provocativos, salientes lábios vermelhos e usando um short curto destacando suas belas e brancas pernas, como uma boneca humana. Mas eu nunca me rebaixaria a este nível e não iria adiantar nada, tenho medo de me acusarem, mas devo falar.
- Ontem meio dia marquei com meus amigos de acamparmos em uma floresta próxima à cidade vizinha. – comecei.
Éramos quatro, Carolina e seu noivo Lucas, eu e meu namorado Rafa. Decidimos aproveitar as férias da faculdade para fazer uma coisa que desde o colégio planejávamos: Acampar. Duas horas depois eles estavam em frente à minha casa, em um Fiat Uno branco, me despedi de minha mãe com um beijo no rosto e fui em direção ao carro sorrindo, me deixaram dirigir.
Durante a tarde foi tudo normal, chegamos na floresta e procuramos um lugar bom para montar as barracas, longe da rodovia. Dentro da floresta estava escuro, as grandes árvores impediam as luzes solares repousarem sobre o chão, o vento cantava uma canção sombria, o clima estava seco perfeito para esta noite. Rafa e Lucas foram cortar lenha para fazer uma fogueira enquanto eu e Carolina montávamos as barracas.
Quando acabamos de montar tudo e acender a fogueira já era noite, nossa única fonte luminosa dentro da floresta era a fogueira, apesar de ser noite de lua cheia, suas luzes eram impedidas de penetrar as árvores, restando só um venusto brilho prateado entre suas folhas e galhos. Estava tudo belo e normal, sentados em frente à fogueira contamos estórias de terror e jogamos conversa fora a noite inteira.
- Nem acredito que finalmente conseguimos. – Disse Carolina, orgulhosa.
– E agradeçam a mim, que organizei tudo, se fossem esperar pelo Lucas… – Implicou Rafa.
– Cara vai se ferrar, não é todo mundo que tem tempo sabe? – Reclamou Lucas
– Ta, já são duas da manhã não vão aproveitar não? – Pergunta Caroline
– Aproveitar o que? Indaga Rafa.
- O frio da noite, para transar a noite toda encostada em uma árvore. – Respondeu Carolina fazendo gestos pervertidos.
- Carol! Para de ser nojenta, não vou fazer isso em uma floresta, acho que você já bebeu de mais.
- Esperem ai, eu gostei da ideia. – Reclamou Rafa.
– Isso serve para você também.
– Me desculpem pessoal mas tô indo dormir, acordei cedo de mais. – Falou Lucas.
O sono de Lucas pareceu contagiar a todos, que fizeram a mesma coisa que ele. Rafa entrou na barraca, mas antes caminhei para um lugar um pouco distante, precisava mijar. Não costumo ter medo de sair por ai sozinha, mas quando vi que já estava longe o suficiente abaixei a calcinha e me agachei rápido, aquela escuridão mesclada com o silêncio não era nada agradável. Quando terminei que levantei, meu coração bateu liberando pavor por todo o meu corpo.
Era uma coisa, com cabeça de bode, grandes chifres, pentagrama inscrito em sua testa, seios de mulher mas corpo de homem, igual àquela criatura de rituais satânicos, parada em minha frente. Não tive reação, travei de medo ao ver aquela coisa a uma distância mínima de mim, me olhando. A coisa não reagia ficava ali olhando para mim, como se tivesse sugando minha alma, e eu ia caindo aos poucos me rendendo àquela imagem bestial.
Minha cabeça estava totalmente confusa, eu estava em todos os lugares do universo ao mesmo tempo, estava no inferno observando milhares de pessoas sendo castigadas pela malignidade do fogo, suas peles borbulhando como água fervente, olhos em chamas e gritos que rasgavam suas cordas vocais de tamanha dor. Estava no centro da galáxia de andrômeda vendo seu massivo buraco negro sugar a luz emitida pelas estrelas.
Em casa, Japão, em universos paralelos, onde nada fazia sentido, e até aqui onde eu estou, me observando. Lágrimas corriam sem parar de meus olhos, pela primeira vez tive medo do sobrenatural.
Não aguentava mais, juntei forças e dei um empurrão naquela coisa. Saí correndo, corri o máximo que pude até o acampamento, entrei na nossa barraca, e que alívio. Rafa estava lá, enrolado em seu cobertor. Me apressei para acordá-lo balançando a cabeça dele, mas havia algo errado com ela, estava mole, resolvi levantá-la, ao puxá-la seu corpo ficou, sobrando só sua cabeça em minhas mãos com os olhos arregalados e um sorriso maligno, jorrando sangue pelas artérias do pescoço, fiquei completamente aterrorizada e joguei a cabeça para longe, não sabia o que fazer se saia da barraca ou ficava ali contemplando aquela macabra cena.
Mas não precisei decidir, a coisa não esperou. A barraca se decompôs em sangue, olhei para traz e estavam Carolina e Lucas parados em minha frente. Mas não eram eles, era outra coisa dentro de seus corpos, Lucas estava segurando uma faca estilo militar que sempre carrega com ele, corri, mas eles vieram atrás gritando feito animais.
Lucas estava perto de mim prestes a me esfaquear, corri o máximo que pude até uma árvore, esperei o ataque e me abaixei na hora. Sua faca ficou fincada na árvore com ele puxando-a freneticamente na tentativa de retirá-la. Peguei uma pedra grande nos pés da árvore, mirei em sua cabeça, joguei a mão para traz mas fui interceptada pela Caroline que me empurrara.
Deitada no chão eu desisti, exausta esperei a morte, olhando meus melhores amigos vim me matar, Lucas parou do meu lado com sua faca ainda com pedaços de madeira levantou-a bruscamente, fechei os olhos para ajudar uma lágrima a cair, mas o que meus olhos captaram foi a faca caindo ao meu lado e dois corpos em combustão, combustão que surgira do nada, Lucas e Caroline se debatiam em meio às chamas.
E aquela figura demoníaca apareceu de novo posicionando-se por cima de mim, arregalou minhas pálpebras com uma mão e enfiou os dedos no meu olho esquerdo, foi puxando-o devagar, eu gritava e chorava de dor, pude sentir meu olho sair da orbita, no meio da agonia minha mão encontrou a faca que Lucas deixara cair, não perdi tempo e a enfiei completamento na garganta da coisa.
Ela grunhiu alto e recuou. Empurrei meu olho e corri como nunca antes, com a ajuda do desespero consegui chegar à rodovia onde estava o carro de Rafa, enfiei a mão nos bolsos para pegar a chave do carro, destravei rápido e entrei. Fui até a delegacia da cidade entrando desesperada, ao entrar, contei a minha situação para o único policial presente àquela hora.
– Sofia, você está me dizendo que um demônio matou seus amigos? Você está ouvindo o absurdo que você está falando? – perguntou o policial.
- Olha para mim! Você acha que eu estou brincando? Para de falar merda e faz a porra do teu trabalho! – Berrei transbordando ódio por todo o meu corpo, mas ele foi impedido de revidar pela chegada da perícia.
- Senhor, estamos com os nomes das vítimas e o senhor não vai gostar nada disso. – Disse um dos peritos com a cara desconfiada.
- Como assim? Por que os nomes deles seriam estranhos? – perguntei ansiosa.
– Sofia, qual o nome deles mesmo? – perguntou o policial olhando as fotos da cena do crime.
– Lucas, Rafa e Carolina.
- Sua maluca de quem você ta falando? As pessoas mortas no acampamento são Marina Souza Barbosa e Adalberto Pereira Souza, seus pais!
Ao ouvir isso, meu rosto começou a formigar de nervosismo.
- Como assim meus pais? Meus pais estão à cerca de 70km daqui!- Falei alto.
- Então me diga quem são estes aqui! – Gritou o policial, mostrando as fotos
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O tempo parou para mim ao ver meus pais mortos, carbonizados. Eu fiquei tonta de tão confusa que estava, onde estavam meus amigos? Teria a besta os levado? Não pude falar mais nada, a dor foi tão profunda que calou a alma.
- Como eu pensava. Leve esta lunática daqui. – Ordenou ao perito.
Ele me algemou e pediu que eu fosse para fora, no entanto a televisão da delegacia nos chamou a atenção com uma notícia urgente do plantão.
- Pais matam seus três filhos em ritual de magia negra na Alemanha. – Disse a repórter. – Rafa Aschenbrenner Andziewicz, Lucas Babinska Andziewicz e Carolina Dzedzic Andziewicz foram as vítimas do ato brutal, Lucas e Carolina foram encontrados com seus corpos carbonizados o jovem foi achado degolado, como se não bastasse, todos tiveram seus olhos arrancados – Concluiu mostrando a foto deles.
- Que porra é essa? – Indagou o policial, eles olhavam a notícia hipnotizados.
– Eles têm o mesmo sobrenome dela. – Falou o perito espantado.
– Deus… o que está havendo? – perguntei aterrorizada.
- O casal não quis falar sobre o caso, O Boletim da Noite fica por aqui, uma boa noite, e até amanhã. – Encerra a repórter.
Quase não percebi que estava sendo levada ao camburão, estava dentro da minha cabeça tentando achar uma resposta. De uma coisa eu tinha certeza: Eu sou filha daquele casal. Mas como acreditar que meus amigos, ou devo dizer irmãos, foram mortos na Alemanha? Como aqueles poderiam ser seus pais se os conheci aqui? Mas não deu tempo de processar. Ao levantar a cabeça, estava lá, a besta.
Parada em minha frente com um olhar vingativo, mas ela não estava só, o policial e o perito também estavam, com olhos negros e sorriso demoníaco no rosto. Finalmente comecei a entender. Não estava mais com medo eu desejava a morte desde o ocorrido no acampamento. Então a besta, invadindo minha mente, revelou-me o enigma: “No inferno nossos olhos podem ver coisas que não podemos no mundo real”.
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Autor Patrick Neves

O tipo bom de má companhia...

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