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Uma Encruzilhada Qualquer - O PACTO

- Você foi demitido, Sérgio. Sentimos muito.

- Como assim demitido?

- Estamos precisando cortar gastos na empresa e começamos pelo setor em que você trabalha. Infelizmente seu salário é fora dos novos padrões da empresa.



Essa não foi a primeira e ele achava que também não seria a ultima noticia ruim que receberia. Nos últimos meses uma série de infortúnios haviam preenchido os dias de Sérgio, perder o emprego foi apenas a cereja no bolo. Meses antes terminara com a namorada de três anos, quebrou o dedo do meio e o anelar quando estes ficaram presos na bola de boliche durante o lançamento – fato este que o fez perder o campeonato estadual que já era dado como ganho -, enquanto jogava Playstation 3 pegou no sono e não viu a forte tempestade que se aproximava, só acordou com o estalo vindo da TV e do vídeo game quando os dois queimaram devido a uma descarga elétrica e, até o mais fiel amigo do homem o abandonou. O cachorro fugiu com a poodle da senhorita Margot, que morava no final da rua, e os dois nunca mais foram vistos.

Decidido a mudar o jogo e reverter a situação Sérgio recorreu ao “lado negro da força”. Comentavam na antiga empresa que seu antigo chefe era frequentador assíduo de encruzilhadas e que tinham ouvido falar – por fonte anônima, porem fidedigna – que fizera um pacto com o próprio diabo, a fim de conseguir o alto cargo na empresa.

Sem ter nada a perder se dedicou durante meses a estudar sobre o assunto: leu livros, conversou com pessoas e se informou sobre o assunto. Após reunir uma lista com todos os itens necessários para convocar “o próprio” se dirigiu á uma encruzilhada no meio do nada, esperava que o fato de ter trazido uma galinha d’angola em vez de um frango totalmente preto não interferisse no resultado.

Feito o ritual – conforme haviam lhe explicado – era necessário esperar um tempo, acabou se encostando em uma arvore que ficava ao lado e pegou no sono. Acordou com um cutucão na costela e já se preparava para chingar o autor deste quando ao olhar a figura totalmente vestida de preto – incluindo chapéu e sobretudo – percebeu quem realmente era.

- Foi você que me chamou aqui?

- S-s-sim, sim senhor. – A frase saiu gaguejada.

- O senhor está no céu, meu Caro. Tem certeza que fez o ritual para a pessoa certa?

- S-s-sim senh… digo sim…

- Meus amigos me chamam de Luci.

- Tenho certeza de que fiz o ritual para a pessoa certa, Luci.

- Não disse que você é meu amigo e que poderia me chamar assim, Bastardo.

- Me desculpe, Senhor.

- Já disse para não me chamar assim, acho que levarei sua alma agora mesmo.

O medo invadiu Sérgio que não sabia o que responder e pensou que iria desmaiar, até que da criatura ouviu um riso, engasgado e estranhamente parecido com um grasnar de pato.

- Relaxe, Sério. Estou brincando, pode me chamar de Luci também. E então o que quer?

- Bom, quero fazer um pacto.

- O que me oferece?

- Minha alma.

- Hum, olha Sérgio, não quero ser chato, mas com esses contratos na internet de “termos de usuário” eu já tenho praticamente todas as almas do mundo, a sua inclusive.

- Como assim?

- Ora, ninguém lê as letras miúdas? Está bem explicado lá sobre a parte de perder direito a alma.

- Então quer dizer que eu não posso nem mais fazer um pacto?

- Poder até pode, você é famoso ou algo do tipo? Ex BBB e esse tipo de subcelebridade não conta, já estou farto deles me pedirem mais quinze minutos de fama em troca de divulgação.

- Pra falar a verdade nem meus vizinhos me conhecem direito.

- Ai fica difícil, Sérgio. Mas vou quebrar seu galho já que sua alma já me pertence. Digamos que será como uma compensação.

- Poxa muito obrigado, Luci. Então como funciona, posso pedir o que quiser?

- Veja bem, como é um favor não vou poder te ajudar diretamente, o máximo que posso fazer é um serviço de consultoria.

- Consultoria?!

- Isso, consultoria. Posso te dar uns conselhos sobre negócios e caminhos a seguir.

- Só isso, conselhos?

- Rapaz pode confiar, se eu te dissesse que meus conselhos fizeram no mínimo 90% dos cargos públicos de Brasília, não estaria mentindo.

- Bom então acho que não tenho escolha.

– Não muita, exceto prostituição talvez, ouvi falar que os travestis ganham bem.

- Tenho alergia a maquiagem não daria certo. Acho que vou ficar com seus conselhos mesmo.

- Sábia escolha.

- Quais são os números da mega-sena?

- Desculpe não posso falar esse tipo de coisa, já fiz um pacto de
sigilo com o pessoal que organiza os jogos.

- Corrida de cavalos?

- Também tenho acordo com eles.

- Jogo do bicho?

- Ta louco, Rapaz! Se eu dedurar o bicho esse povo mata todos os meus agentes da região.

- Agentes? Não sabia que você tinha isso.

Cuidar da imagem é fundamental.

- Então não entendo no que você pode me ajudar.

- Olha, vou deixar claro, posso fazer pequenas coisas, dar pequenas dicas, mas que no final valeram a pena e você vai perceber isso quando estiver comendo uma secretaria gostosa na sua sala de presidente de algum grande grupo.

- Tomara.

- Pode confiar, seu ex-chefe confiou.

- Então é por isso que aquele filho da puta está naquele cargo?

- Claro que sim, já conversou cinco minutos com ele? É um completo imbecil.

- Então você deve ser realmente muito bom.

- Não é pra me gabar não mas, sou um dos melhores.

- Então por onde podemos começar?

- Me fale em qual curso você é formado?

- Em nenhum, ainda não fiz faculdade.

- Bom, neste caso vamos começar escolhendo uma faculdade pra você.

FIM
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Autor Patrick Neves

O tipo bom de má companhia...

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